bipolar

26 March 2006

que te move?perguntava-se?

ana rabiscou o caderninho como quem faz perguntas à alma:
Que te faz correr, afinal?
não corres pela lotaria, nunca correste. Mas sentes-te sortuda por tanto, tanto…e desde logo por ter vontade de correr e ir por ai fora, mesmo com mundo perigoso, desconhecido. tens no sangue a certeza que as tormentas sempre dão em Esperança.
O sofrido Adamastor que por mal de amores ficou com mau feitio foi vencido por homens que cresceram por um amor que aumentava a sua estatura e bravura.
E assim se chegou longe, ao mais longe e improvável porque a confiança vale mais do que o medo e um abraço dura mais do que um tremelique.E quando se dá as mãos a força triplica, e o coração cresce à força de mimos.
Quanto à direcção: basta seguir o caminho mais luminoso, ler o céu, nas estrelas e nuvens e seguir sem medo!

21 March 2006

Chegou o tempo das flores e dias longos

Se não fosse a poesia e a primavera, todos os inícios e coisas irreais, o belo e o que nasce, o mundo seria um lugar de cor mais feia. No mesmo dia comemora-se a árvore, a estação das flores e os versos e imagens originais. Os tristes fins, os dias frios e chuvosos, a prosa entediante que não baila, as palavras gastas que nada dizem são toleráveis porque há o oposto que dura mais na memória: um poema, um dia primaveril, um nascimento, uma promessa. Se não fosse pelos inícios, pelos projectos, pelo amanhã, pelo que está para vir, o caminho seria mais árduo e avançaríamos penosamente. A poesia eleva , mostra o mundo pelo olhar novo de quem não perdeu o dom do encantamento. A criação nasce do excesso, mais do que da carência. Jogar com as palavras é criar “mundos possíveis” , improváveis, mas mais reais. Cada poema, como cada flor é fruto da esperança, da crença que o mundo pode ficar mais bonito e nosso. Assim como o olhar vê a paisagem, a Poesia mostra terrenos interiores, descobertos muitas vezes no acto de palavrar com cuidado, postais da alma com musiquinha própria.

18 March 2006

de sítio alto...

do caderninho(cont.)
já fui fraquinha, já fiquei muito triste, já tive vontade de ir embora e já me desgostei por me ver em cores feias nos olhares dos outros, mas agora não: puxaste-me para a pista, fizeste-me descobrir o bem que dançava e o bom que era dançar e agora o medo não tem lugar de relevo nesta peça, algum cuidado, mas sem tremuras ou disparate.
Por tua causa acordo mais cedo, por vontade de ver que cor de céu há hoje, por tua causa olho para mim de outra maneira, tenho um guerreiro cá dentro e o coração a crescer a olhos vistos em capacidade:já que me puseste no trilho e me fizeste capaz de percorrer longas distâncias: de horário pequeno, dia-à-dia, de sol a sol, com um olhar rápido à Lua, como quem bebe esperança aí, contigo cresceram os dias,passei a ter maior prazo: há sempre alguma irrealidade e risco neste novo horário, mas por tua causa o medo foi embora e veio a esperança, “essa coisa com penas” que fez ganhar novo sentido às minhas asas: num momento era o desenho que prometia que não caia, agora as mesmas asas fazem-me andar no ar, above, e é tão bom!

14 March 2006


para ilustrar o post caminhos ou you fix me.
pic minha

you fixed me

No coração tinha um buraco, como um furo em meia de vidro que te faz o andar deselegante… depois tu arranjaste-me, de dentro na forma de imaterial projecto, bem concreto mas feito de sonhos. Traçar caminho novo. Escolher uma estrada desconhecida, sem mapa. Ter as estrelas por guia e o coração por gps. Lutar com o medo sem recuar e não ouvir medos alheios antes da partida. A viagem pertence ao viajante ainda que se possam mandar postais ou tirar fotografias.
Não tem hora certa para lá chegar, mas sabe exactamente que tem que ir. E é o caminho que chama pelos pés cansados, tornando cada passo um gesto certo; por mais que a estrada seja pontuada de placas com contraditórias informações, sabe de cor o caminho: em frente, que para trás não se repete.
O meu caminho, com desvios, rotundas e becos é o meu. Nem sempre souberam ler o meu mapa, também já me deram direcções erradas e o caminho que apetece aos outros não te leva forçosamente ao teu porto.
No coração tinha uma rachadela que o mapa da viagem veio agora preencher com a espuma da esperança que é como um sinal de prioridade a nosso favor: enche-nos de confiança e vontade de fazer caminho

09 March 2006

do caderninho de ana

às vezes não apetece acordar,mas há mil razões para despertar.
Queres uma razão??
Eu dou-te várias:
Um sol radiante que aquece a pele; um nevoeiro cerrado que põe o mundo esbranquiçado sem nevão, o barulho da chuva, o bater das ondas contra a rocha, o “o mar enrola na areia”, o frio até ao arrepio, o calor que faz suar, montanhas que te fazem sentir pequeno, ruas apinhadas de gente que te fazem lembrar que tens o teu lugar, o ar com pólen no início da Primavera, um jardim atapetado a folhas em tons de mil castanhos. um gelado da Olá ou fazer bolas com chiclet, um abraço eloquente, a cor de cabelos que não se repete,
Ninguém pode garantir nada, com verdade, mas se fosse a certeza que determinasse o passo, não teria ninguém ido mais longe do que a primeira esquina, não se teriam dobrado cabos, conhecido outros continentes ou saído desta bela bolinha azul, ainda que a Lua vaidosa seja argumento suficiente para os maiores desvarios. E não podes evitar algumas arrelias, umas quantas lágrimas e o norma

l menos bom que a vida dá, mas há a Torre Eiffel e o farol da Foz do Douro, o Big Bem e a Ribeira, que fazem com que valha a pena a viagem, adocicam o olhar e a alma em sintonia.
E os beijos e os abraços. Não te parecem razões bastantes para dar um piscar de olho à vidinha, para passear nesta terra?


Parece a sereia da Dinamarca, mas é feita com gente e aconteceu na Foz do Douro.

06 March 2006

maré-cheia( continua o caderninho de ana)

Quando chegaste mudou tudo :a tristeza fugiu por não caber no espaço agora ocupado por mil músicas e palavras coloridas e hipérboles, no sentir, no olhar e no querer. Apetitoso, abres o apetite para a vida que sabia a insossa. Contigo veio o ritmo forte, que não tem passinho certo, nem regras a que obedecer que não seja o bate-bate do coração, que ganhava pressa e força com um simples olhar teu por tão quente que dava sede, de ti.
Trouxeste o carnaval para cá, para a minha vida de horários diurnos veio a parte lunar, de encontros no carro, à porta do liceu, com musiquinha, que na altura recebeu apenas a minha graça por reacção, mas ficou a falar de ti, anos depois. Raça de dj que faz este inprint!!
Se não houve muitas viagens, esta acabou por ser a maior:.Eras o verdadeiro colonizador, que fazia prodígios: nunca fomos a Porto Rico, mas tu deste-me a América Latina, fizeste-a morar em rua citadina ou junto ao areal e bailamos, bailamos o que foi uma rica excursão, voltas ao mundo que então ficou pequeno, cabia em cada voltear do olhar. Cada um guardou os negativos e nunca se relatou a ninguém as conquistas e descobertas desse tempo de mar e desejar terras longínquas. Criámos um idioma para não nos entenderem, e o hino no território nosso era isto, melodia que não pede cachecol e que pode prescindir do próprio Sol, pois faz calor. Eras nutriente, que de um cacto fazia brotar doces frutos, milagres de alma tropical, fecunda e capaz de deixar sonhos plantados em estéreis terras. E não há nada mais bonito do que ensinar alguém a sonhar, levá-lo à terra do Possível ou mesmo do Improvável e deixar espreitar um nadinha de amanhã.
Agora ando à procura de personagens para o livro, mas a tua sombra faz dos outros caracteres planos, tipos que à história podem acrescentar enredos e acções secundárias, mas para o lugar de herói ou protagonista ainda está o lugar ocupado, com a ausência que deixaste.Em troca a inspiração para mil capitulos, todos a tentar dizer o mesmo:foste maré-cheia e isso não é coisa que se esqueça.

04 March 2006

no caderninho de ana uma anotação: um dia tristonho

A alegria pode tirar férias e instalar-se cor mais feia.
A alegria é um filtro que consegue retirar do real o imperfeito e desculpá-lo sem querer motivo : A alegria pinta o dia em tons quentes, espalha clima tropical em solo nórdico.
Mas como a voz afinada, basta um olhar para mandá-la para o quarto
Um tom de voz alto é suficiente para que encolha a um canto e não mais queira brincar
A alegria é a raiva do que se não teve ao contrário como quem desafia deuses e homens
Rindo da dor de cabeça à custa de enormes doses de aspirina.
A alegria é receber bem o dia que ainda não chegou .Quando a alegria se esconde, o amanhã escurece,acorda com traje de noite sem festa onde ir ou vontade de dançar. E só quero dormir, dormir, dormir .Quando acordar já estou bem.

01 March 2006

continua o caderninho de ana

continua o caderninho de ana:Chove,chove e chove, que seca!

Vento, trovoada, tudo chegou quando saíste como se a estação mudasse logo aí.
Meia perdida, resolvi caminhar e caminhar, podia ser que te encontrasse, a ideia de não te ter ao lado não cabia em mim, por assustador e doloroso, se te lembrava não andava sozinha. Se te procurava tinha uma meta ao longe e a caminhada ganhava alento e sentido. Não eras o Norte, mas apontavas para lá. A vida parecia esticar ao teu olhar confiante, como se mais dez mil anos nos aguardassem por estas bandas e não houvesse que ter pressa ou receio, já que ninguém ia a lado nenhum.
Quem conhece o oásis não tolerará jamais o deserto por casa fixa, há de rumar para lá, mesmo que não saiba se fica à direita ou esquerda, mesmo que do oásis apenas tenha conhecimento por ouvir falar de fonte segura ou por revelação em sussurro de sonho. Vai para lá, primeiro de corpo e alma vazia e destemperada; teimosia de bicho que somos sem botão para desligar, com o vício de respirar e instinto de sobreviver, mesmo contra a racional vontade que pesa prós e contras sem conceber o conceito de milagre que é nascer o Sol e brilhar para ti. Depois a caminhada enche a alma e de corpo e alma melhora o caminho. És Oásis, uma altura partilhado, agora miragem e miragem outra vez, mas fazes-me andar, como aguentaria esta aridez, tanto igual igual e sempre o mesmo, e dores e cansaços, se não fosse a tua presença e existência? Porque és, em mim e em destino, caminho a terra toda, o que for preciso. Se não fosse para contar-te e encontrar-te fecharia os olhos, deitar-me-ia na areia, não daria um passo mais e esperaria a serpente, que me levasse ao teu encontro, como fez o pequeno Príncipe em final de viagem.