Depois de muito procurar,encontrou quando menos esperava o seu par pelo jeito de andar e pela cor dos olhos de amêndoa que contavam segredos sem palavras.Sairam do café barulhento e percorreram ruas da cidade que ficava nova e deles a cada passo e a cada olhar partilhado.Decidiram que não podiam passar mais tempo afastados, que era urgente viver em conjunto pois cada adeus se revelava doloroso.Tiveram de aprender um código de palavras e gestos e a tais aprendizagens chamavam namorar.
Ana descobriu nele a amizade e a ternura que fundam os grandes amores mas acima de tudo descobriu que, ao contrário de outros que chegavam cheios de histórias e aventuras mal resolvidas, ele carregava um coração de menino e tinha coragem de guerreiro, e como qualidade mágica devolveu-lhe a capacidade de sonhar, que é juntar pigmento aos dias que ás vezes se apresentam cinzentos.
Na proximidade dele, um quarto ganhava aspecto de palácio, uma varanda lembrava um castelo e ela, finalmente e depois de muito tempo a sentir-se pequenina ou sem graça, de novo se sentiu única como uma princesa.E soube que um reino se constrói com a ternura dos que livremente se escolhem e que nada há mais forte do um par de mãos entrelaçadas.E que os pactos que permanecem se selam com um beijo, o sangue é coisa para filmes gore.E os sonhos que se partilham recebem o nome de projectos. Há dias resolveu escrever-lhe um bilhetinho, fora de data ou sem razão como quem entrega um beijo sem ser a pedido, no papelinho escreveu:
"És o meu Rei porque me fizeste tua princesa." Não entregou em mão, deixou o papel na mesinha da entrada porque ele não é muito lamechas e vai achar mais graça se o encontrar por acaso, como quem descobre o mapa do tesouro sem deste andar à procura, como de resto aconteceu com o encontro deles.