bipolar

30 May 2006

um domingo em dia de semana

Às vezes aparece uma poeira que cobre tudo de tom cinza e faz do ar atmosfera seca.Não aparece todos os dias o arco-íris e há dias que nascem cinzentos e acabam descolorados.Ouço conversas mil que não acrescentam nada de especial e dá vontade de abalar para paisagens novas, por explorar que carreguem surpresas e novidades.
Ainda que o calendário não assinale assim, parece domingo no tédio e fastio.Não se passa nada nesta latitude que faça o coração tremer, mexer-se, sentir-se vivo.E nada dá mais raiva que os dias cinzentos na Primavera, ou do que as conversas ocas se todos sabem tantas palavras.
Vamos caminhando por hábito, sem notar ou sem qualquer transformação, devagarinho e o dia passa, secante e estéril, mais um sem que haja cor ou história de memória.Demasiado devagar e por rotina passa um minuto atrás de outro e não se cresce um milímetro.
Respiramos por instinto, suamos com o calor, cansanos um trabalho, trocam-se frases sem grande assunto, ninguém reparou que a nossa alma está em tom escuro, não gritamos mas para dentro vai um ensurdecedor ruído que não chega a ser aí porque não se dirige a ninguém.
E quando o dia assim se apresenta é melhor não dizermos demasiado sob pena de sermos mal entendidos.Há dias em que as palavras não chegam para contar-nos, para falarem da cor da paisagem interior, demasiado árida para convidar ao passeio, menos ainda guiado.
Que venha uma chuvinha pela manhã, para dar brilho aos caminhos cobertos da poeira de um dia sem interesse, em que fomos os detentores únicos das falas, em que não descobrimos encantos e nem a nós nos conseguimos distrair.

12 May 2006

medos sem ser em lista numerada

Medos
Há dias que tenho muitos;Há dias que quase não tenho.O contrário de medo é confiar:
É fechar os olhos e deixar-se ir;Jogar-se para trás sem hesitar.
Há dias que temo que chova
Há dias que temo que o sol lhe fira a pele
Há dias que faz vento e lembro-me da minha mãe que treme ao ouvir ventar
Há dias em que me apetece assistir à trovoada, gosto dos relâmpagos, mas o barulho dos trovões assusta-me.
Gosto do mar, de mergulhar, do levante e dos carneirinhos
Mas o barulho forte do mar picado faz-me algum receio
E à praia à noite nunca iria sozinha
Há alturas em que brinquei aos medos
Experimentava e vencia medos pequeninos
Também já vivi semanas temerosas,
A ansiedade incerta, que não tem porquê , mas persiste
Mas o medo é má companhia e péssimo amigo.
É muito velho do Restelo, sempre faz as contas pelo baixo, fraco, pior
O medo é hiper-consciência paranóica, assustar-se quando ainda o carro não saiu do estacionamento; Vestir a gabardine porque anunciaram chuviscos para daqui a 3 dias.
De todos os medos, que experimentados em doses pequenas não têm mal algum:
De alturas, espaços fechados, abertos, aranhas, ratos, do escuro…o medo que eu temo é o medo do medo.
Já brinquei com o medo e o medo já brincou comigo o bastante. Cada um tem o seu espaço, a pulso definido. Vou tendo medos, pequenos medos, medos médios, os grandes resolvo em pesadelos a dormir, ou espanto-os em historietas.
O contrário do medo é confiança. Confiar é um caminho íngreme que se tem que fazer passinho a passinho, a grande arma contra o medo é um forte abraço, mesmo um abracinho já surte efeitos! O medo evapora-se com tal calor. E mesmo frágeis, condição a que não podemos fugir, sabemo-nos capazes de muito, almas xl e a crescer.
Contigo perto não há medo que dure o suficiente para assustar!













pic da casa, carneirinhos no céu em fim de tarde.