bipolar

02 April 2007

avó bé

No meu riacho perdemos uma pedra basilar, grande, muito querida que há muito marcava o nosso trilho, que de tanto servir de apoio e suporte, fez da solidez ternura e nos serenava com um simples olhar meigo. Escusado relatar o quanto o vazio deixado modifica a paisagem para tons mais tristes; escusado dizer como o riacho aumentou de caudal com lágrimas de todos nós. Falhou-nos o pé, sentimos o estômago descer e ficar frio na barriga. Estavas aqui ainda há pouco. Eras parte do nosso caminho. Retomámos a marcha hesitantemente, devagar e com tremores mas caminhamos de novo, por entre a água dos dias, com a tua memória por guia.
Lembrar-te é reencontrar mapa seguro e a certeza de tesouros. Recordar-te é afastar piratas do medo, eficazmente.
Agora nada temo por ti e sei que continuas a olhar-me o caminho. Trago-te no coração e isso faz com que estejas sempre perto.
A água flui e nós, pedrinhas, amparamo-nos para ganhar força. Continuas trave em afecto, a vigiar o caminho para que não caia ou tema cair sequer; para que encare "os rápidos" do rio sem demasiado temor. Seguir viagem sem ti custa e os pés teimam em procurar o conhecido apoio mas agora essa parte do trilho é memória, matéria forte. Fecho os olhos, tateio com a pontinha do pé, encontro-te, sigo. Consigo contigo.