um domingo em dia de semana
Às vezes aparece uma poeira que cobre tudo de tom cinza e faz do ar atmosfera seca.Não aparece todos os dias o arco-íris e há dias que nascem cinzentos e acabam descolorados.Ouço conversas mil que não acrescentam nada de especial e dá vontade de abalar para paisagens novas, por explorar que carreguem surpresas e novidades.
Ainda que o calendário não assinale assim, parece domingo no tédio e fastio.Não se passa nada nesta latitude que faça o coração tremer, mexer-se, sentir-se vivo.E nada dá mais raiva que os dias cinzentos na Primavera, ou do que as conversas ocas se todos sabem tantas palavras.
Vamos caminhando por hábito, sem notar ou sem qualquer transformação, devagarinho e o dia passa, secante e estéril, mais um sem que haja cor ou história de memória.Demasiado devagar e por rotina passa um minuto atrás de outro e não se cresce um milímetro.
Respiramos por instinto, suamos com o calor, cansanos um trabalho, trocam-se frases sem grande assunto, ninguém reparou que a nossa alma está em tom escuro, não gritamos mas para dentro vai um ensurdecedor ruído que não chega a ser aí porque não se dirige a ninguém.
E quando o dia assim se apresenta é melhor não dizermos demasiado sob pena de sermos mal entendidos.Há dias em que as palavras não chegam para contar-nos, para falarem da cor da paisagem interior, demasiado árida para convidar ao passeio, menos ainda guiado.
Que venha uma chuvinha pela manhã, para dar brilho aos caminhos cobertos da poeira de um dia sem interesse, em que fomos os detentores únicos das falas, em que não descobrimos encantos e nem a nós nos conseguimos distrair.